segunda-feira, 22 de junho de 2009

Dica de leitura

No Japão da Segunda Guerra, um triângulo amoroso envolve Michiyo, Jokichi e Masukichi - uma moça de boa família, um filho de industrial e um ator de kyogen, o teatro cômico japonês. À primeira vista, isso é tudo que Setsuko, a dona do restaurante japonês, tem a contar ao narrador de O sol se põe em São Paulo, de Bernardo Carvalho. Mas logo a trama se complica e se desdobra em outras mais, passadas e presentes, que desnorteiam o narrador involuntário, agora compelido a um verdadeiro trabalho de detetive para completar a história em que se viu enredado. Pois o relato de Setsuko aponta para além do desejo, da humilhação e do ressentimento amorosos, e se vincula aos momentos mais terríveis da História contemporânea - tanto do Japão como do Brasil. Obra sem fronteiras, que une a Osaka de outrora à São Paulo de hoje, e esta à Tóquio do século XXI, o romance de Bernardo Carvalho entrelaça tempos e espaços que o leitor julgaria essencialmente separados - e nos quais a prosa de ficção brasileira não costuma se arriscar. Caberá ao narrador transitar de um pavilhão japonês no bairro do Paraíso a um cybercafé na Tóquio pós-moderna, das fazendas do interior de São Paulo aos campos de batalha da guerra no Pacífico. Tudo a fim de desvendar uma trama tortuosa, que envolve ainda um soldado raso, um primo do imperador e um escritor famoso (o romancista Junichiro Tanizaki) - e também sua própria pessoa, sua própria identidade - pária ou escritor?

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